Na noite de segunda-feira (22), ao parar no cercadinho diante do Palácio da Alvorada para conversar com apoiadores, Jair Bolsonaro foi questionado por um homem. “E a Globo, sai ou não sai (do ar)?”
“A Globo tem um encontro comigo no ano que vem, né?”, respondeu o presidente. “Encontro com a verdade, não vou perseguir ninguém. Mas tem que estar com as certidões negativas em dia, um montão de coisas aí.”
O rapaz anônimo disse que a emissora precisa demonstrar transparência. “Quem já foi soldado no quartel aí? Igual a parada matinal: tem que estar arrumadinho”, comentou Bolsonaro, rindo da própria ironia. “Ela (Globo) e qualquer outra empresa.”
Esse tom moderado surpreende e intriga. Desde o fim de 2019, o presidente envia ‘recados’ à direção da Globo sobre possíveis dificuldades para a renovação da concessão pública do canal. O documento atual expira em 5 de outubro do ano que vem.
Nas várias ocasiões em que falou do assunto, Bolsonaro insistiu no rigor da análise dos documentos que a emissora terá que apresentar ao governo para comprovar sua situação financeira e fiscal.
“Vai ter que estar direitinho com a contabilidade para ter a concessão renovada. Se não estiver tudo certo, não renovo a de vocês (Globo) nem a de ninguém”, avisou no ano passado.
No último dia 15, o portal Diário do Centro do Mundo postou matéria dizendo que Jair Bolsonaro “vai barrar nova concessão da Globo em 2022”. De acordo com o veículo de viés esquerdista, a informação foi passada por um parlamentar da tropa de choque do presidente.
Caso Bolsonaro não renove a concessão, ele precisará convencer dois quintos da Câmara (206 deputados) e a mesma fração no Senado (33 senadores) a aprovar e ratificar sua decisão. Caberia à Globo judicializar a questão para se manter no ar por meio de uma liminar e tentar reverter a cassação.
Em um ano eleitoral, com os parlamentares focados em interesses pessoais e partidários, seria difícil Jair Bolsonaro conseguir apoio suficiente nas duas casas legislativas para atacar seu pior inimigo na grande mídia. Mas aqui é o Brasil, tudo pode acontecer, ‘taokey’?